* * * Extraído do Portal G1 * * *
Linha Amarela, administrada por
concessionária, virou alternativa. Passageiros ouvidos pelo G1 dizem apoiar
greve geral contra reforma da previdência.
A Linha 4 Amarela do Metrô foi a única do transporte metropolitano de
São Paulo a funcionar plenamente nesta sexta-feira (28). Mas, com o fechamento
das transferências com as linhas do Metrô e da Companhia Paulista de
Transportes Metropolitanos (CPTM), que aderiram à greve geral, o movimento de
pessoas na hora do rush matinal despencou em relação a outros dias úteis. Às
9h30, as baldeações foram abertas.
"Dá até para fazer piruetas quando não tem trem", brincou uma
senhora na estação Luz, às 7h, enquanto tentava achar uma saída para a rua,
onde pegaria uma van do trabalho.
Entre as 5h e 7h da manhã, a maior parte das pessoas que circularam
pelas estações da Linha 4 eram porteiros, guardas noturnos, domésticas e
funcionários de manutenção que trabalharam durante a madrugada em bairros do
Centro ou da Zona Oeste e precisavam ir para casa de trem, metrô ou ônibus. As
alternativas, para eles, foi sentar e esperar, ou retornar ao serviço.
"Devia ter vindo de carro", afirmou o porteiro Cosme Barbosa
Delfino, de 42 anos. Ele mora em Itaquera, na Zona Leste, perto da estação
final da Linha 3 Vermelha, mas trabalha há 23 anos como porteiro noturno em um
edifício em Pinheiros. Às 5h20, ele descia a escala rolante na estação Fradique
Coutinho, com o plano de fazer baldeação na República e seguir para casa de
metrô. Ele ainda não sabia que a transferência estava fechada.
Passageira da Linha Amarela (Foto: Carolina
Moreno/G1)
O plano B foi descer na República e procurar uma perua. Mas, às 5h30, a
Praça da República estava quase deserta, sem ônibus e com poucos carros e
pedestres. Hanncia Lopes Pereira, de 44 anos, era uma das poucas pessoas por
ali. Ela conta que chega todos os dias às 3h30 para vender café na saída do
metrô. "Sempre quando tem paralisação tem mais gente", comparou ela.
Depois de alguns minutos pensando no que fazer, Cosme decidiu retornar
ao serviço. "Acho que vai ficar o dia todo mesmo", disse ele,
avisando que não se estressa e que espera que a greve tenha efeito.
"Porque as propostas que eles estão querendo aprovar... A população está
indignada, revoltada."
Outro porteiro que também trabalhou à noite e ficou sem opções para ir
para casa nesta sexta foi Domingos Rodrigues Filho, de 54 anos. Ao contrário de
Cosme, porém, ele é contra a greve.
Bastante cansado, ele contou ao G1 que
trabalhou das 18h às 6h, precisou andar de Santa Cecília até a República e
pegou o metrô até Pinheiros. À frente das catracas bloqueadas da transferência
para a Linha 9 da CPTM, ele disse que ainda precisava ir até o Terminal Santo
Amaro e pegar a Linha Lilás do Metrô até o Capão Redondo, na Zona Sul, onde
mora. Ele diz que costuma chegar em casa antes das 8h, mas, às 7h30, seguia no
Terminal Pinheiros sem saber o que fazer.
"É cruel uma coisa dessas, só prejudica o trabalhador",
reclamou ele. Apesar de ser contrário à greve, ele também é contra as reformas
trabalhista e da Previdência, que, segundo ele, "na verdade não melhoram
em nada". Ele lembra, porém, que em outros casos em que protestos
conseguiram resultados, como as manifestações contra o aumento da tarifa, os
ganhos foram temporários e tarifa acabou aumentando de novo.
A cuidadora de idosos Joana Lima Bastos, de 62 anos, e a vendedora
Mônica Maria, de 27, também viraram a noite trabalhando e, antes das 8h, ainda
não tinham rumo certo. Joana terminou um turno às 6h na Vila Madalena e
precisou caminhar mais de meia hora até o terminal. "Todo dia eu pego um
ônibus até aqui, outro até Campo Limpo e depois outro até a minha casa",
disse a idosa, que mora no Capão Redondo. "Sempre eles falam que vai ter
greve e não tem, então eu confiei. Da outra vez fiquei esperando até as 9h e o
trem começou a funcionar", contou ela.
Mônica, que começou seu turno em um quiosque de comida que fica entre os
pontos de ônibus do terminal, ainda trabalhava por volta das 8h - apesar de não
haver clientes e de o local estar sem energia desde as 2h. Seu turno já era
para ter acabado, mas a funcionária que a renderia não conseguiu chegar por
causa da greve. "E eu não sei como vou poder ir para casa", completou
ela.
As duas, porém, dizem que a greve é justa. "Sou a favor, mas
deveriam fazer de tarde. Tem outras pessoas que estão no serviço à noite e não
têm como voltar para casa", disse Joana, que, aos 62 anos, só tem quatro
anos de contribuição no INSS, graças à PEC das Domésticas. "Quando cheguei
em São Paulo em 1975 as patroas não tinham esse costume de registrar na
carteira".
Passageira do Metrô (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
'Só na base da carona'
Independente da posição favorável ou contrária à greve, quem não aderiu
precisou encontrar alternativas. Jucilene Canuto, de 45 anos, trabalha no Largo
do Arouche e usa a Linha Amarela todos os dias. Porém, antes de chegar à
estação Luz, ela precisava pegar a Linha Azul para sair de casa, no Tucuruvi,
na Zona Norte. No fim, ela acabou tendo sorte: "Como meu irmão trabalha no
Centro, a empresa dele mandou transporte, e eu aproveitei e peguei carona até a
República. Senão, teria sido muito mais difícil."
A rotina dela teve que mudar. "Eu entro todo dia às 9h",
afirmou Jucilene, que, todos os dias, sai de casa às 7h30. Nesta sexta, porém,
ela já estava na Linha Amarela por volta das 7h. "Hoje saí às 6h, e agora
estou indo para o Butantã buscar uma pessoa que não conhece o trajeto. Ela
também conseguiu carona, mas até o metrô Butantã. Hoje é tudo na base da carona",
afirmou Jucilene.
Assim como a maior parte dos poucos passageiros na Linha 4, ela não
perdeu a calma. "Com certeza vale a pena. Acho que é válido, a gente sabe
que vai causar prejuízo, mas com certeza tem uma consequência boa. Tem que ter
reformas, mas elas precisam ser justas."
Linha Amarela virou alternativa
Pouco depois das 8h, o movimento na Linha Amarela começou a aumentar,
mas, segundo os frequentadores diários, os trens costumam ficar muito mais
cheios em dias normais.
Um dos efeitos da adesão dos metroviários e motoristas à greve foi
transformar a Linha Amarela em uma alternativa inusitada para muita gente. Um
jovem que não quis se identificar afirmou que mora em Itapevi e costumava pegar
a CPTM até a estação Júlio Prestes, e depois seguir até a Liz. Nesta sexta,
porém, ele foi parar no Butantã. "Vi um ônibus passando e peguei",
disse ele, que teria que chegar às 7h na Santa Efigênia, mas, às 8h15, ainda
estava em Pinheiros.
Já o ex-metalúrgico Donizete da Silva, de 58 anos, mora em Osasco e só
precisa ir ao Hospital das Clínicas uma vez a cada três meses, para fazer um
tratamento de trombose que ele começou há três anos. A consulta mais recente,
às 9h desta sexta, foi marcada em fevereiro e caiu justamente no dia da greve.
"Mas tem que ir, né", disse ele, que costumava pegar um ônibus até a
Vila Iara e outro até as Clínicas, mas, às 8h25, desembarcava na estação
Paulista com o plano alternativo de caminhar até o hospital.
A mudança o desagradou, e ele aproveitou para avisar que é contra a
greve. "O direito de ir e vir é de todos nós", afirmou ele. Donizete
diz que já foi sindicalista, mas acredita que hoje os sindicatos só servem para
apoiar políticos corruptos. Ele acredita que há muito populismo na política e
acha que "não é questão de ser contra ou a favor das reformas",
porque, segundo ele, a situação atual não é sustentável.
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