sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Ele é 10, Pelé é 80


 

Mauro Beting

Yahoo Esportes 23 de out. de 2020 09:42

 * * * EXTRAÍDO DO PORTAL YAHOO * * *

 Ele é Pelé há 64 anos, quando chegou ao Santos - o clube de Pelé.

Há 63 anos Ele vestiu a amarelinha pela primeira vez - a seleção de Pelé.

Há 62 anos Ele conquistou o mundo pela primeira das três vezes - o mundo de Pelé.

Errei: do planeta que não é de Pele por Ele ser de outra galáxia. Com o devido respeito a Três Corações, o Pelé dos 1000 gols é ET.

Todo mundo tem história com Ele. Também por ninguém saber tabelar com a gente como Ele. Ninguém atende tão bem as pessoas que não conhece quanto Edson conhecido por todas elas. Todas ganham atenção e autógrafo, selfie e sorriso. Até nisso Pelé é Pelé.

Eu adoraria dizer que não esqueço o único gol que vi Dele no estádio, no Morumbi, no empate com o meu Palmeiras, em 1973. Mas eu não vi. Meu pai tanto falou Dele que eu morri de medo e toda vez que a bola passava pelo meio-campo eu fechava os olhos para não ver Pelé pelezar.

Por isso não O vi marcando o gol naquele domingo. Um clássico numa tarde de sol: gol de Pelé.

Como o daquele dia de Maracanã contra o Fluminense, em 1961. Quando Ele driblou o Tricolor inteiro para marcar mais um golaço. O que inspirou o editor Walter Lacerda e o jornalista Joelmir Beting a criarem uma placa em homenagem à obra-Pelé.

Uma placa que em 1999 o próprio Pelé deu ao meu pai. Em retribuição do autor do Gol de Placa ao autor da placa do gol.

O maior prêmio que minha família recebeu.

Mas eu ainda ganharia outro, por ser curador da exposição das Copas do Rei do Museu Pelé. Onde uma vez levei meu filho para um evento que apresentei com o Rei. Ele perguntou o nome do meu caçula e disse em seguida: "Gabriel, você tira uma selfie comigo"?

Isto é Pelé. Ou melhor. É o Edson que sabe o tamanho universal do Pelé. Um Beatle que lançou o último disco em 1977. Um Fellini que dirigiu o último filme em 1977. Um Michelangelo que pintou a última capela em 1977. Um Leonardo da Vinci que criou a última obra em 1977.

O Pelé do futebol é o Pelé.

Não é 8 ou 80. É 10. É 80. É mais de mil gols. É tri.

É do Pelé.

Perdão por falar de coisas pessoais. Mas com Ele é assim. Ele nos faz mais pessoal. Ele nos faz acreditar mais nas pessoas. Saber separar o que o Édson erra como humano e o que Pelé acertou como ser além disso e de tudo.

Tão Pelé que até quando errou o gol do meio-campo em 1970, quando cabeceou a bola que Banks fez uma defesa de Pelé no México, e quando não fez o golaço no drible da vaca no goleiro uruguaio, Pelé foi mais que todos.

Até não fazer gol é mais genial com Pelé. É mais Pelé que genial.

Pele é Rei na democracia mundial do futebol. Mas é rei de real, não da nobreza, por fazer reais os lances irreais. É rei não por não perder a majestade. É rei por fazer simples as coisas complexas. É real a sua obra por levar o Brasil ao mundo e nos trazer três vezes o mundo pra casa.

Pelé não perde a majestade por ser simples. Por ser Pelé em cada trato mais do que pessoal. Por não levar o trono no bolso como levou rivais na bola.

Pelé faz 80 assim celebrado por ser 10 em tudo lá dentro. O cidadão do mundo de outro planeta faz tudo ficar maior do que é.

Ele nos deu o sonho real. Ele nos deu o mundo.

A gente de tanto falar Dele acha que pode chegar perto.

Afinal, quem um dia não sonhou ser Pelé?

Eu não. Porque nem Pelé em sonho supera o Rei real.

Edson Arantes do Nascimento. Você tem o nome do gênio que inventou a lâmpada. Como o Thomas, Edson não é o gênio da lâmpada. Mas ilumina com o mesmo mantra do inventor de quase tudo: o gênio consiste em um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração.

É você, rei. Parabéns, terráqueos.

Obrigado, Pelé. O moço de Três Corações.

Ou quatro.

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