Mauro
Beting
Yahoo Esportes 23 de
out. de 2020 09:42
Há 63 anos
Ele vestiu a amarelinha pela primeira vez - a seleção de Pelé.
Há 62 anos
Ele conquistou o mundo pela primeira das três vezes - o mundo de Pelé.
Errei: do
planeta que não é de Pele por Ele ser de outra galáxia. Com o devido respeito a
Três Corações, o Pelé dos 1000 gols é ET.
Todo mundo
tem história com Ele. Também por ninguém saber tabelar com a gente como Ele.
Ninguém atende tão bem as pessoas que não conhece quanto Edson conhecido por
todas elas. Todas ganham atenção e autógrafo, selfie e sorriso. Até nisso Pelé
é Pelé.
Eu adoraria dizer que não esqueço o único gol que vi Dele no
estádio, no Morumbi, no empate com o meu Palmeiras, em 1973. Mas eu não vi. Meu
pai tanto falou Dele que eu morri de medo e toda vez que a bola passava pelo
meio-campo eu fechava os olhos para não ver Pelé pelezar.
Por isso não
O vi marcando o gol naquele domingo. Um clássico numa tarde de sol: gol de
Pelé.
Como o
daquele dia de Maracanã contra o Fluminense, em 1961. Quando Ele driblou o
Tricolor inteiro para marcar mais um golaço. O que inspirou o editor Walter
Lacerda e o jornalista Joelmir Beting a criarem uma placa em homenagem à
obra-Pelé.
Uma placa que
em 1999 o próprio Pelé deu ao meu pai. Em retribuição do autor do Gol de Placa
ao autor da placa do gol.
O maior
prêmio que minha família recebeu.
Mas eu ainda
ganharia outro, por ser curador da exposição das Copas do Rei do Museu Pelé.
Onde uma vez levei meu filho para um evento que apresentei com o Rei. Ele
perguntou o nome do meu caçula e disse em seguida: "Gabriel, você tira uma
selfie comigo"?
Isto é Pelé.
Ou melhor. É o Edson que sabe o tamanho universal do Pelé. Um Beatle que lançou
o último disco em 1977. Um Fellini que dirigiu o último filme em 1977. Um
Michelangelo que pintou a última capela em 1977. Um Leonardo da Vinci que criou
a última obra em 1977.
O Pelé do futebol é o Pelé.
Não é 8 ou
80. É 10. É 80. É mais de mil gols. É tri.
É do Pelé.
Perdão por
falar de coisas pessoais. Mas com Ele é assim. Ele nos faz mais pessoal. Ele
nos faz acreditar mais nas pessoas. Saber separar o que o Édson erra como
humano e o que Pelé acertou como ser além disso e de tudo.
Tão Pelé que
até quando errou o gol do meio-campo em 1970, quando cabeceou a bola que Banks
fez uma defesa de Pelé no México, e quando não fez o golaço no drible da vaca
no goleiro uruguaio, Pelé foi mais que todos.
Até não fazer
gol é mais genial com Pelé. É mais Pelé que genial.
Pele é Rei na
democracia mundial do futebol. Mas é rei de real, não da nobreza, por fazer
reais os lances irreais. É rei não por não perder a majestade. É rei por fazer
simples as coisas complexas. É real a sua obra por levar o Brasil ao mundo e
nos trazer três vezes o mundo pra casa.
Pelé não
perde a majestade por ser simples. Por ser Pelé em cada trato mais do que
pessoal. Por não levar o trono no bolso como levou rivais na bola.
Pelé faz 80
assim celebrado por ser 10 em tudo lá dentro. O cidadão do mundo de outro planeta
faz tudo ficar maior do que é.
Ele nos deu o
sonho real. Ele nos deu o mundo.
A gente de
tanto falar Dele acha que pode chegar perto.
Afinal, quem
um dia não sonhou ser Pelé?
Eu não.
Porque nem Pelé em sonho supera o Rei real.
Edson Arantes
do Nascimento. Você tem o nome do gênio que inventou a lâmpada. Como o Thomas,
Edson não é o gênio da lâmpada. Mas ilumina com o mesmo mantra do inventor de
quase tudo: o gênio consiste em um por cento de inspiração e noventa e nove por
cento de transpiração.
É você, rei. Parabéns, terráqueos.
Obrigado,
Pelé. O moço de Três Corações.
Ou quatro.
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