* * * Extraído do Portal UOL * * *
Do UOL, em São Paulo
05/03/201318h55 > Atualizada 05/03/201321h12
Ferrenho
crítico do neoliberalismo e do governo dos Estados Unidos, o presidente
venezuelano, Hugo Chávez, morreu aos 58 anos nesta terça-feira (5), vítima de
um câncer na região pélvica, com o qual convivia há um ano e meio. Desde que
sua enfermidade foi diagnosticada, em junho de 2011, Chávez passava longos
períodos em Cuba, onde tratava a doença.
O
anúncio oficial da morte de Chávez foi feito por volta das 17h25 no horário
local (18h55 no horário de Brasília) desta terça-feira (5) pelo vice-presidente
venezuelano Nicolás Maduro. No mesmo pronunciamento, Maduro confirmou que
Chávez morreu às 16h25 (18h no horário de Brasília).
Maduro
afirmou que utilizará a prerrogativa de um dispositivo militar e policial
especial para garantir a paz do país após a morte de Chávez.
"Será
desencadeada uma união especial de toda a Força Armada Nacional Bolivariana, da
Polícia Nacional Bolivariana, que neste exato momento está em execução para
acompanhar e proteger nosso povo", disse Maduro durante um pronunciamento
em rede nacional para rádio e televisão.
Por volta das 19h20 (horário de
Brasília), os chefes das Forças Armadas da Venezuela declararam sua lealdade ao
vice-presidente e convocaram todas as forças disponíveis no país para garantir
a segurança de todos os cidadãos venezuelanos e o cumprimento da Constituição
do país.
Vice havia dito na tarde da terça que Chávez tinha "plena
consciência e vontade de vida"
Maduro já havia feito um pronunciamento
sobre o estado de saúde de Chávez nesta terça-feira. O vice-presidente chegou a
dizer que Chávez tinha "plena consciência e vontade de vida" e clamou
pelo retorno do presidente venezuelano: "Que volte Chávez, que assuma Chávez".
No mesmo pronunciamento,
Maduro acusou os "inimigos do país" de estarem por trás da doença de
Chávez. Antes mesmo do anúncio oficial da morte do presidente venezuelano, o
porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Patrick Ventrell negou a acusação
feita por Maduro: "A afirmação de que os Estados Unidos estavam envolvidos
de alguma maneira na causa da enfermidade do presidente Chávez é absurda, e a
rechaçamos completamente",
Retorno
de Cuba em meados de fevereiro causou surpresa no país
Antes de viajar à ilha pela última vez, em dezembro de
2012, Chávez fez um pronunciamento na televisão venezuelana, no qual aludiu ao
risco de morte ou de complicações maiores. Na ocasião, ele também indicou o seu
sucessor, o vice-presidente e chanceler Nicolás Maduro.
No dia 18 de fevereiro, Chávez voltou à Venezuela de forma surpreendente após dois meses em Cuba.
"Chegamos de novo à Pátria venezuelana. Obrigado Deus meu!! Obrigado povo
amado!! Aqui continuaremos o tratamento", escreveu na ocasião em seu
perfil no Twitter.
Desde então, a oposição vinha cobrando mais clareza por parte do governo sobre o estado
de saúde do mandatário.
Em outubro de 2012,
Chávez havia sido reeleito presidente da Venezuela, com 54% dos votos. Como
faleceu antes de assumir o governo, o país deverá passar por novas eleições. O
ex-governante já deixou o seu recado sobre o futuro do país. "Vocês todos
têm de eleger Nicolás Maduro como presidente. Peço isso de coração",
afirmou, durante seu pronunciamento na TV.
Quem
foi Hugo Chávez, presidente da Venezuela
Foram mais de três décadas de vida política na Venezuela,
que começou quando ele se formou em ciências e artes militares na Academia
Militar da Venezuela, aos 21 anos.
Natural de Sabaneta, oeste da Venezuela, Chávez nasceu a
28 de julho de 1954. Ele era o segundo de seis filhos dos professores Hugo de
los Reyes Chávez e Elena Frías de Chávez.
Sua infância e adolescência, vividas em Sabaneta e
Barinas, também no oeste do país, foram marcadas pelo gosto por esportes e
artes – o presidente chegou a escrever alguns contos e obras de teatro.
Em 1975, ingressou na
Academia Militar da Venezuela, e não demorou muito para que se tornasse
tenente-coronel, em 1990.
Sua ideologia esquerdista e a identificação com Simón
Bolívar, um dos heróis da independência da Venezuela, o levaram a fundar o
Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR200), que pregava a reforma do
Exército e a mudança da ordem constitucional vigente.
Em fevereiro de 1992, orquestrou um golpe de Estado contra
o então presidente Carlos Andrés Pérez, que estava envolvido em denúncias de
corrupção. A tentativa fracassou e Chávez foi levado à prisão, onde permaneceu
por dois anos.
Já em 1997, ele fundou o Movimento Quinta República (MVR),
agremiação pela qual venceu as eleições presidenciais do ano seguinte, com
56,5% dos votos.
Assim que tomou posse, em 1999, Chávez dissolveu o Congresso
e convocou um referendo para a instauração de uma Assembleia Nacional
Constituinte. Das 131 cadeiras, 120 pertenciam a aliados do então presidente.
A nova Carta, aprovada por 71,21% dos eleitores, mudou o
nome do país para República Bolivariana da Venezuela, outorgou maiores poderes
ao Executivo, extinguiu o Senado – o Parlamento virou unicameral – e aumentou
os direitos culturais e linguísticos dos povos indígenas. Novas eleições
presidenciais foram realizadas em 2000, e Chávez foi reeleito com 59,7% dos
votos.
Em 2002, o país passou por uma grave crise política depois
que Chávez demitiu gestores da PDVSA – a petrolífera estatal venezuelana, que
controla 95% da produção nacional – e os substituiu por gente de sua confiança.
Opositores organizaram um golpe de Estado em abril do
mesmo ano, que foi seguido de um contragolpe dois dias depois, já que forças
leais a Chávez perceberam o clamor popular do líder. Com duração de 47 horas,
este foi o golpe de Estado mais rápido da história.
Um referendo sobre a permanência de Chávez no poder foi
realizado em agosto de 2004, e 58,25% dos votantes se mostraram favoráveis ao
presidente. Em 2006, ele foi reeleito para um segundo mandato de seis anos.
Mais uma vez, ele governou com grande apoio no Congresso, já que a oposição
havia boicotado as eleições legislativas de 2005.
O primeiro revés veio no final de 2007, quando a
população, após um plebiscito, negou uma reforma à Constituição. Em 2008, a
oposição ganhou a prefeitura das duas maiores cidades do país, Caracas e
Maracaibo, além de cinco Estados economicamente importantes (Zulia, Carabobo,
Miranda, Táchira e Nueva Esparta).
Os revezes seriam em parte compensados em 2009, quando
Chávez conseguiu a aprovação da reeleição ilimitada em um referendo no qual 54%
dos votos foram favoráveis à proposta. Em 2012, ele disputou o pleito
presidencial pela quarta vez e foi reeleito, mas não chegou a assumir o
governo.
Aliados
e inimigos
No campo da política externa, Chávez não escondia seu
apreço por governantes como o boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael
Correa e os cubanos Raúl e Fidel Castro, todos combatentes da diplomacia dos
EUA. Por outro lado, era feroz crítico do governo da vizinha Colômbia, aliada
dos EUA na América do Sul, e se desentendeu várias vezes com o ex-presidente
colombiano Álvaro Uribe (2002-2010).
Ainda no âmbito regional, Chávez era o principal defensor
da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), bloco de cooperação regional
fundado em 2004 em oposição à Alca (Área de Livre Comércio das Américas),
proposta impulsionada pelos EUA desde a década de 90, mas que nunca foi criada.
Em 2009, o presidente expulsou do país o embaixador de
Israel, em represália à intervenção militar israelense na faixa de Gaza, em
janeiro do mesmo ano. Por outro lado, era próximo do iraniano Mahmoud
Ahmadinejad e dos ex-ditadores iraquiano Saddam Hussein (1937-2006) e Muammar
Gaddafi (1942-2011).
Também defendia o ditador sírio, Bashar al Assad, o que
causava controvérsias, já que o regime árabe é acusado de promover uma violenta
repressão à revolta popular que atinge o país.
Política
interna
Enquanto presidente, Chávez trabalhou para diminuição da
pobreza em seu país. Em 2003, ele implementou as "Misiones
Bolivarianas", programas sociais voltados à população carente. Existem 26
missões – as mais conhecidas são a "Misión Robinson", que promove a
alfabetização em regiões pobres, e a "Misión Barrio Adentro", que
leva assistência médica a estas zonas.
Tais políticas contribuíram para a melhora na condição de
vida dos venezuelanos. Segundo pesquisa do Instituto Datos, a renda da classe
"E", a mais pobre do país e que concentra 15,1 milhões de pessoas
(58% da população), aumentou 53% entre 2003 e 2004.
Antes, em 2001, ele havia baixado um decreto-lei conhecido
como Lei dos Hidrocarbonetos, que fixou em 51% a participação do Estado no
setor petrolífero – a Venezuela é o oitavo maior exportador mundial de
petróleo, que representa 80% das exportações do país -- aumentou o preço dos
royalties pagos por empresas estrangeiras pela exploração do líquido.
A Lei de Terras e Desenvolvimento Agrário, do mesmo ano,
estabeleceu a expropriação de terras improdutivas acima de 5.000 hectares.
Em 2007, em mais um gesto contra os opositores ao seu
governo, o presidente decidiu não renovar a licença do canal de televisão
aberta Radio Caracas Televisión (RCTV), que desde então é obrigada a transmitir
via cabo.
Entre 2009 e 2010, o país sofreu uma grave crise
energética após uma seca provocada pelo fenômeno climático El Niño. A oposição
culpou o governo por não investir na área, e a população foi obrigada a fazer
racionamento.
O dilema energético venezuelano persiste, e se juntou ao
problema no sistema carcerário, explicitado após uma rebelião de mais de mil
presos na cadeia de El Rodeo, a 40 km de Caracas, em junho de 2011, que deixou
dezenas de mortos.
Herança
familiar
Chávez deixa três filhas e um filho – três são fruto do
casamento com Nancy Colmenares e uma nasceu da união com a jornalista Marisabel
Rodríguez, de quem havia se separado em 2003. O ex-presidente ainda manteve um
caso amoroso de dez anos com a historiadora Herma Marksman, enquanto estava com
sua primeira mulher.
Tags: Hugo Chávez, Luto, Notícias, Venezuela, UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário