* * * Extraído do Portal G1 * * *
Terapia utilizada em homem
de 64 anos com linfoma em fase terminal, deve ser reproduzida em mais quatro
pacientes até o primeiro semestre do ano que vem. Pesquisa da USP-Fapesp criou
método 100% brasileiro para aplicar técnica norte-americana CART-Cell, que
ainda não tem data para ser disponibilizada na rede pública de saúde.
Por Fabio Manzano, G1
O tratamento que levou à remissão de um linfoma em fase terminal
no mineiro Vamberto Luiz de Castro deverá ser aplicado em mais quatro pacientes
até julho de 2020, afirma um dos pesquisadores do grupo responsável pela
criação de técnica de terapia
genética pioneira no país.
"Minha
expectativa é que até o primeiro semestre de 2020 vamos ter realizado pelo
menos mais 4 tratamentos compassivos", disse ao G1 o
hematologista Eduardo M. Rego, que é pesquisador do Centro de Terapia Celular
(CTC-Fapesp-USP), entidade que concentrou as pesquisas.
Eduardo M. Rego, que também é professor da Faculdade de Medicina
da USP e coordena o setor de hematologia do grupo Oncologia D’OR, explica que
os próximos passos para esta descoberta incluem ainda a realização de um estudo
clínico, que deve durar dois anos e ter um grupo maior de pacientes – ele não
define prazos, nem número de atendidos.
A
expectativa é que, junto com o acompanhamento de Vamberto, os resultados que
virão a ser obtidos com os próximos quatro pacientes também sirvam para guiar
os os rumos do projeto.
"No
estudo clínico é onde poderemos testar a eficácia e a segurança do tratamento.
Tem que garantir que ele é eficaz e seguro, a partir daí podemos pleitear que
essa estratégia seja incorporada ao SUS, mas aí vai entrar uma discussão de
orçamento, que a gente não controla.", ressaltou Rego.
Se as etapas
de estudos e pesquisas continuarem a se manter promissoras, o coordenador do
CTC Dimas Tadeu Covas, avalia que o tratamento pode ser adotado em larga escala
com adaptações nos laboratórios de produção.
“Os
investimentos necessários para ampliação da capacidade produtiva são de pequena
monta, da ordem de R$ 10 milhões”, afirma Covas.
Próximos
passos
O primeiro paciente a estar “virtualmente” curado de um linfoma a
partir desta técnica ainda segue em tratamento, com medicações e sessões de
fisioterapia para reabilitação após 40 dias em que ficou internado. O mineiro
Vamberto receberá o diagnóstico final de cura após cinco anos de acompanhamento
da equipe médica.
O linfoma é
um câncer que afeta as células do sistema linfático, que é uma parte importante
do sistema imunológico, ou seja, o sistema de defesa do nosso organismo que
ajuda a combater infecções. No linfoma, essas células passam a se proliferar de
forma descontrolada.
Nos próximos
meses, os pesquisadores esperam poder realizar mais quatro tratamentos no CTC.
De acordo com o hematologista Eduardo M. Rego, todos serão feitos até o fim do
primeiro semestre de 2020. Este passo será realizado apenas em formato compassivo,
com pacientes que não tenham mais nenhuma opção de tratamento.
Após estes
pacientes, o grupo pretende abrir um protocolo de pesquisa clínica que atenderá
mais pacientes em um prazo de dois anos. Depois deste período é que
apresentarão os resultados do estudo para a Anvisa, que irá decidir se o
tratamento poderá ou não ser liberado no país em escala.
Manchas pretas no exame são
tumores. O primeiro foi realizado há um mês, quando o paciente chegou ao
hospital. Nesta semana, o resultado do exame mostra que a maioria das manchas
desapareceu, e as que restam sinalizam a evolução da terapia. — Foto: Reprodução/Fantástico
100
% brasileira
Renato Luiz Cunha, outro dos responsáveis pelo estudo, explicou ao G1 que a
terapia genética consegue modificar células de defesa do corpo para atuarem em
combate às que causam o câncer.
"As
células vão crescer no organismo do paciente e vão combater o tumor",
disse Cunha. "E desenvolvemos uma tecnologia 100% brasileira, de um
tratamento que nos EUA custa mais de R$ 1 milhão. Esperamos que ela possa ser,
no futuro, acessível a todos os pacientes do SUS."
O tratamento
ainda não está liberado na rede pública ou privada de saúde, por isso, Cunha
explicou que, para que o estudo pudesse ter atendido a um paciente no hospital
universitário, seu encaminhamento foi aprovado por uma comissão de ética.
Um porta-voz
do Ministério da Saúde disse ao G1 que a
pasta não comenta sobre pesquisas em andamento, mas explicou que antes de ser
disponibilizado na rede SUS, o tratamento precisa passar "por uma série de
comissões" que avaliam os riscos e a segurança dos pacientes e tem que ser
aprovado pela Anvisa.
Tratamento
complexo
Dimas Tadeu Covas, que coordena o Centro de Terapia Celular do HC
de Ribeirão, disse ao G1 que o procedimento
poderá ser reproduzido em outros centros de excelência do país, mas não dá
datas. Isso porque, segundo ele, depende de laboratórios controlados com
infraestrutura adequada.
"Devido
à complexidade do tratamento, ele também só pode ser feito em unidades
hospitalares com experiência em transplante de medula óssea", disse o
pesquisador. "Isso porque, durante o processo, a imunidade é comprometida.
O paciente tem que ficar isolado, não pode ficar exposto. Não são todos os
hospitais que podem fazer esse tipo de tratamento. Além disso a terapia tem
efeitos colaterais."
A resposta
imune progressiva pode causar febres altas, náuseas e dores musculares. Os
pesquisadores não eliminam o risco de morte, e reconhecem que a forte baixa no
sistema imunológico traz um potencial fatal para alguns pacientes.
Terapia
genética
A estratégia da CART-Cell consiste em habilitar células de defesa
do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de reconhecer o tumor. O ataque
é contínuo e específico e, na maioria das vezes, basta uma única dose.
Tags: Brasil, Câncer Ciência,
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